Saga 1 - De boa na Lagoa

"Voar. Nossa como eu amo isso. Quando olho para os terrestres, andando e correndo de um lugar para o outro preocupados com suas vidinhas medíocres, sinceramente, trocadilhos a parte, tenho pena.

Qualquer pássaro, ao menos aqueles que voam, já estão simplesmente muito a frente. E nós, os abutres barbudos estamos acima de todos eles. Veja bem, gaviões, águias e condors tem de caçar. Canários e aqueles outros que nem me dei o trabalho de aprender os nomes comem frutas. Mas quem come eles quando morrem?

Hehe. Seus ossos enchem nossas barrigas. E o melhor, se ta tendo seca, nós vamos pros picos das montanhas e usamos neve pra matar a sede, não é ideal mas dá pro gasto. Enquanto isso aqueles otários só sentam e choram. Ou melhor, choram e morrem. E quando fazem isso, quem eles alimentam?

Bom, agora já chega de falar de quão superiores somos. Vamos falar do quão ansioso eu to pra essa festa. Primeiro, claro que estou decepcionado comigo mesmo. Não queria estar ansioso. Mas não minto para mim mesmo, para os outros talvez, mas não para mim mesmo. E qual o motivo para essa ansiedade toda? Simples, essa é a primeira vez que posso sair do reino do céu.

Minha família não sabe ainda, mas desde que descobri a história do meu nome e as lendas que o rondam, me decidi em abandonar meu ninho e meu bando. Sair por conta própria.Ser livre. Mas claro que isso não pode ser feito do nada. Primeiro tenho que saber pra onde ir. Quais desafios vou enfrentar.

Tenho que achar casa, demarcar meu território para me alimentar. Como no meu reino a justiça prevalece, mesmo que eu vire um ômega essas coisas não vão ser tão difíceis. Ao menos conseguir uma casa. Mas se fosse para viver em segurança eu ficaria com o bando não é mesmo?

Por isso já determinei o local que pretendo explorar. Conhecer e enfrentar animais novos. O reino da terra. Caótico, onde força reina suprema. Lugar perfeito para mim. Não que eu seja forte, mas certamente ficarei. E de toda forma eu sou tão rápido e voo. O que aqueles terrestres podem fazer contra mim? Tsc.

Mas por enquanto ainda sou só um filhote e fico na segurança do bando. E é nessa segurança que vou observar os animais mais fortes e promissores daquele reino. Conhecimento é poder, como diria meu pai. Me pergunto se foi ele que criou essa fala, mas certamente faz sentido.

Não sei se vou sentir falta dele, ou do bando por sinal. Mas desde que eu possa continuar sendo capaz de voar, estarei feliz. Ahhh como é bom voar."

Conforme voava em direção à lagoa, cortando o vendo a minha frente, pus-me a pensar no motivo da festividade. Digo, o motivo além de minha presença, obviamente. Dez ciclos lunares sem conflitos era um bom feito se levar em conta a matança que aquele lago representava, totalmente oposto da união que seria comemorada. Tudo bem, tudo bem, eu não poderia falar muito sobre o assunto, já que não presenciei de verdade grandes conflitos por aquela área. Minha grandiosidade pode não fazer parecer, mas eu ainda era novo, afinal, e no geral ouvi apenas histórias sobre como era aquele lago antigamente. As matanças, a batalha do lago e os pactos eram histórias comuns contadas aos mais novos, provavelmente para que não repetíssemos o que os anteriores ao pacto fizeram, e reiniciássemos a matança. Se não fosse para reforçar a paz, não teriam preparado essa festa, não é mesmo?

Com minha grandiosa velocidade, não tardou e logo avistei o lago, tão glorioso como minha pessoa, se erguendo em meio a clareira. Era um porto seguro, um belissimo porto seguro, mais do que digno de minha presença. As águas cristalinas davam um toque de pureza agora reverenciado ao local, e a parada abrupta das árvores quase claramente poderia ser vista como uma barreira que não permitia a entrada de conflitos, um local deveras bonito, especialmente de cima, do céu. Por um instante tive pena dos pobres seres terrestres que não poderiam apreciar aquela paisagem que estava vendo, mas no final quem nasce no chão, morre no chão, era inevitável. Me movendo como o vento, descia e, espiral naquele oásis procurando uma pedra alta para que pudesse pousar em cima, onde me ajeitaria e avaliaria os animais já presentes. A harmonia mantida na lagoa por tão diversos animais era louvável, visto que fora deste perímetro o encontro de tantas espécies teria grandes chances de causar um conflito; assim este tipo de evento proporcionava experiências únicas de interação. Quer dizer, não que eu tivesse a intenção de sair criando laços a torto e a direito com os terrestres e arbóreos, mas conhecê-los melhor era uma sabia atitute, e, assim, uma atitude digna de minha pessoa. Deste modo, me manteria atento a todos que viessem com minha cabeça erguida para gerar confiança.

Eu havia chegado a pouco tempo na lagoa, e não sabia se a tal festividade havia começado; eu na verdade nunca estive em uma festividade, então deveria ser normal não saber dizer se já havia começado ou não; mas por como o lugar estava parado, eu apostava na segunda opção. Muitos animais ainda estavam chegando, e de pouco em pouco iam enchendo o lugar. Eu sinceramente não sabia como que todos os animais da floresta caberiam ali, então suspeitava que muitos não viriam, assim, já esperava não ver tantos rostos conhecidos. Enquanto olhava a minha volta, uma voz ressoou pela clareira e chamou a atenção de todos enquanto um leão, o dono da voz, entrava com a imponência que eu deveria ter tido quando cheguei. Ele começou seu discurso dizendo que precisávamos da paz no lago e que muitos poderiam não entender o porque disso, mas para mim parecia bem claro; todos precisávamos daquela água, mas com aquela quantidade toda de animais, se todos tentassem possui-lá acabaria que ela não seria de ninguém. Além do mais, mesmo que a selva fosse regida pela luta e demonstração de poder, como ele havia afirmado, os fracos também precisavam daquela água, mas dificilmente a conseguiram por haverem animais mais fortes lutando pela posse daquele lugar. Aquele tratado era benéfico para ambos os fortes e os fracos, de todos os reinos, ao menos era isso que eu pensava.

Em meio ao discurso, o leão levantou sua cabeça e mostrou as cicatrizes em seu corpo, só reforçando meu pensamento, e provavelmente o da maioria, que aqueles conflitos só causavam perdas. Aquele leão merecia meu respeito, e, por mais que doesse, até eu, o grande Capitão Fibolt, podia perceber sua superioridade. Após toda a comoção que causou, o leão terminou seu discurso dizendo que esperava que o plano "deles" desse certo... Deles. Quem???? O leão simplesmente jogou aquela no ar e saiu, como se nada demais tivesse ocorrido, e o resto dos animais começou a se divertir também como se ele não tivesse dito nada demais. Visto que só eu estava encucado com aquilo, presumi que os mais velhos deveria, saber do que ele estava falando, então decidi deixar isso para lá por enquanto. Deste modo, me virei para o lago a tempo de ver um grupo de hienas se jogando na lagoa e espirrando água para todos os lados. Água, por mais que fosse essencial para a sobrevivência, e por mais que nós pássaros pudéssemos ficar submersos por bastante tempo  nem quando "prendíamos a respiração" ao voar em altas altitudes, eu ainda não apreciava me molhar. Asas molhadas não serviam para voar, e um pássaro que não voa é tão capaz quanto um predador sem dentes. Deste modo, me afastaria da água arremessada o mais rápido possível, antes de voltar a pedra depois que a parassem de pular na lagoa.

Novamente olhando os animais no local, pensava que nada chamaria minha atenção; muitas aves como os falcões possuíam ótima visão, então já havia visto quase todos os tipos de animais na floresta pelo céu, mas algo me chamou a atenção. Meio tímido em meio ao grupo de animais, me deparei com um felino estranho, parecia um tigre branco, mas com pelo mais avantajado, similar a filhotes de leão, realmente algo que eu nunca havia visto. Após avista-lo, decidi aproveitar aquela chance de interação para me aproximar dele; voando pelo alto de maneira rápida, esperava que ele não me visse graças à minha estupenda velocidade até que eu estivesse bem próximo, quando desceria ao lado - Bom, err... dia? O que exatamente você é? Eu já vi muitos animais nessa floresta, mas nada parecido com você - Caso dissesse que eram uma mistura de duas espécies de maneira triste, replicaria - Que incrível, isso quer dizer que pode ter a força de ambos? - Porem, caso ele dissesse que aquilo não era uma coisa boa, responderia - Não seja bobo, os comuns não chegam a lugar nenhum, além do que lhes é preestabelecido. Se você é diferente, mostre que essa diferença é para melhor - Se ele perguntasse meu nome, responderia, com o peito estufado - Sou o grande Capitão Fibolt; rápido como o vento, forte como as correntezas, resistente como as montanhas. Eu gostei da sua singularidade, então pode me chamar só de Fibolt - Por ultimo, se ele perguntasse que tipo de pássaro eu era, responderia com orgulho - Sou um dos incríveis Falcões-Peregrinos, as aves mais velozes de todas!

- Tchau Mãe. Falaria me afastando dos dois enquanto caminhava rumo ao lago, os dois por algum motivo não queriam ir, mas me permitiram ir só até lá “Ah cara estou atrasado, será que dormi demais outra vez?” pensaria caminhando em meio à floresta apresando o passo para não demorar ainda mais a chegar ao local.

Caminharia apressadamente em direção ao lago e por mais que a vontade de descansar fosse grande a ansiedade por chegar lá era ainda maior “Quando eu chegar lá vou conseguir descansar” pensaria tentando me manter animado.

Ao chegar ao lago conseguia ver um Leão com uma voz imponente fazendo um breve discurso e se retirando logo em seguida, eu não entendia o que tais palavras significavam, após ele deixar o local uma hiena saltou dentro do lago molhando todos que estavam ali próximo;

Sem conhecer nenhum outro filhote olharia em volta e procuraria por algum pequeno arbusto frutífero do qual eu pudesse me alimentar enquanto observava a movimentação dos outros animais que ali estavam, caso encontrasse caminharia até ele com cuidado para não esbarrar em nenhum adulto sentaria próximo ao arbusto e começaria a comer algumas frutinhas sentado ao lado daquela planta.

Enquanto eu voava de forma circular lá no alto observando o lago e aqueles que chegavam em seus arredores, alguns animais chamaram minha atenção. Primeiro era uma outra ave que estava mais abaixo, um tipo de falcão. Ver ele me fez lembrar de como meus pais sempre disseram que eles eram as aves mais velozes dos céus. Tsc, como isso pode ser? Eles são tão pequenininhos, devem ser fracos não é mesmo?

Fora que, eu já contei como eu sou rápido? Pois se não contei, to avisando agora. Cara, eu sou muito rápido. Tipo, mais rápido que qualquer outro filhote do meu bando. Tão rápido quanto alguns dos mais velhos. Imagina como vou ser quando crescer? E eles vem me dizer que aquele nanico é mais rápido que eu? RÁ! Isso é o que vamos ver...

Olhando na mesma direção que o falcãozinho, eu logo descobria o que ele observava, uma zebra. Que desinteressante. Opa! Espera aí! Aquilo é uma zebra mesmo?? Estreitando meus olhos para ver melhor, eu logo percebia meu erro. – Não é uma zebra!! – Dizia eu sem conseguir conter minha surpresa.

Admito que o nanico parecia ter descoberto algo... de repente minha atenção era chamada por um vozeirão que ecoava firme mesmo no alto. Quem falava era um leão cheio de cicatrizes, contando sobre histórias da guerra e com um discurso agourento sobre a volta da guerra. Não que eu me incomodaria. Com guerra mais animal morto, mais ossos, maior fica minha pança. Mas ainda assim... também não é legal ver comida sendo desperdiçada né!

Vocês podem achar que sou inteligente demais pra minha idade. Pois estão certíssimos. Sou inteligente, muito inteligente. Papai e mamãe dizem que sou um gênio! Um gênio, sabiam? Inteligente, rápido, lindo. E resistente. Também sou muito resistente. Cara, eu sou demais.

Hm, hm. Me empolguei um pouco. Voltando ao discurso do agourento. No fim ele ainda lançava essa de - espero que os planos deles deem certo. – antes de ir embora. Tsc. Que babaca. Se não ia explicar melhor, pra que dizer algo? Só pra me deixar curioso, aposto. Mas não vai funcionar, não vai! Não vou ficar curioso.

Droga. Estou curioso. Sigh.

Bom, agora que ele anunciava o início da festa, mais e mais animais vinham chegando, e logo via um leão filhote entrando no lago e começando a brincar. Típico. Mas... leão!! Virando meu olhar para a zebra que não era uma zebra logo via alguns traços dos leões, mas quando tem listra é tigre. Então é isso! Um tigre!! Hehe, ele parece tão medroso, será que deveria dar um susto nele?

Mas antes mesmo que eu pudesse ir, o falcão saía na frente e pousava do lado dele o surpreendendo. Foi mais rápido que eu. – Não acredito! Ele realmente é mais rápido?! Como assim?! – Por alguns segundos minhas crenças ruíam. Minha confiança ia rio abaixo, carregado pela correnteza. Meu mundo caiu.

Com o bico aberto em espanto e planando ali, eu observava enquanto eles começavam a se comunicar, mesmo que não pudesse ouvi-los. Mas por pior que a crise possa ser, não tem nada que a mamãe não possa resolver. Por mais que eu me sinta envergonhado de dizer isso, admito que mais uma vez ela me salvava, ou melhor suas histórias.

Do fundo da minha mente eu quase conseguia ouvir sua voz enquanto me lembrava do conto. “Era uma vez um louva-deus que faminto que observava e perseguia sua presa, a dona cigarra. O que ele não sabia no entanto, era do papa-figos que estava atrás dele, fazendo a mesma coisa...”

- Não é que ele foi mais veloz. É que assim como o papa figos da história, eu sou o vencedor final. Hehe, qual a graça de assustar um quando posso assustar ambos? – Falava comigo mesmo enquanto descia aos poucos e me posicionava acima dos dois. Uma vez que calculasse a altura ideal para não me machucar com minha brincadeira, começaria a ação.

Primeiro fecharia as asas e daria um mergulho curto pelos ares na direção dos dois, ouvindo o vento soprando por meus ouvidos e vendo o chão se aproximando mais e mais, para no fim abri-las novamente no momento ideal e frear minha descida – GAAAAWWWKKKK!!! – Gritaria em conjunto então para aumentar as probabilidades de sucesso.

- HAHAHAHAHAHAHA!!!! – Riria alto da cara deles caso tivesse conseguido meu objetivo. – Suas caras, ahhhh, vocês tinham que ver suas caras! HAHAHAHA!! Magnífico! Sensacional! – Caçoaria tentando conter o riso mas sem conseguir de fato. Usando uma asa para enxugar as lágrimas dos olhos que escorriam devido a risada excessiva, eu tentava me acalmar e regular minha respiração parando de rir.

- Ouvi você dizendo que é da raça mais rápida nanico? – Diria pro Falcão o provocando. – Pois eu duvido que seja mais rápido que eu, o grandioso Peng!

- Porque não fazemos o seguinte. Uma corrida. Vamos voar até o outro lado do lago e voltar. Quem chegar primeiro é o ganhador. Seu amigo terrestre aqui pode ser testemunha. O que me diz? Tem coragem?

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Se por conta da pegadinha um dos dois avançasse sobre mim, eu saltaria de leve para fora do caminho abrindo as asas para me equilibrar. – Está(ão) louco(s)? Não sabe que não podemos lutar aqui? Tsc, sorte a sua, run. – Dito isso em um tom de superioridade e com as assas abertas de forma a intimidar os oponentes ele voltaria ao seu objetivo, propondo a corrida.

Após avistar o felino branco, me aproximar e iniciar a conversa, não demorou muito para ele se apresentar. Nashala, como dizia ser seu nome, era uma mistura de tigre com leão, um Tigreão. Sua espécie possuía um nome forte, digno de uma mistura de duas raças que até eu considerava bem poderosas. Após se apresentar, obviamente Nash quis saber sobre mim, até porque quem em sã consciência não quereria conhecer o grande Capitão Fibolt? Suas ações eram mais do que justificáveis, inclusive sua admiração e espanto. O garoto não só era especial, como sabia reconhecer grandes indivíduos quando os via, e isso me fazia gostar mais dele. A conversa estava fluindo até que ele mencionou sobre eu morar nas montanhas; claro, eu morava lá, falcões peregrinos como eu moravam em regiões montanhosas, mas ele parecia ter muito interesse no local - Lá - Respondia - É um local muito perigoso para os não voadores. A não ser alguns bodes que vivem nas partes mais íngremes, nunca entenderei como fazem aquilo. De lá é possível ver grande parte da floresta, mas a visão privilegiada dos falcões deve ter sua parte nesse quesito - Dizia essa ultima parte com orgulho. Mesmo que eu fosse o incrível Capitão Fibolt, era óbvio para mim que ser um falcão peregrino ajudará muito em minha grandeza, e talvez não chegasse onde cheguei se fosse de outra raça. A selva realmente era injusta com seus privilégios às vezes.

Falando em superioridade dos pássaros, assim que terminei a frase dirigida a Nash, algo surgiu com um urro pelas nossas costas, me fazendo virar de supetão. Ao olhar para trás, me deparei com um filhote daqueles abutres vermelho-escarlates rindo tanto que seu bico parecia prestes a rachar, do nosso "susto" - Porque tá rindo? Por acaso acha graça dos reflexos rápidos dos outros? Talvez porque os seus não sejam tão apurados? - Dizia, tentando transformar a desvantagem em vantagem. Aos poucos o pássaro que deveria ter cerca (ou mais) de duas vezes minha altura foi parando de rir e voltando ao normal. Ele se apresentou como Peng, e demonstrou sua excentricidade ao realmente achar que era mais veloz que o grande apitado Fibolt. Lastimável. Finalmente Peng terminou por me desafiar a uma corrida através do lago, justamente tarefa na qual eu me excedia ao maximo; parecia até que ele tinha uma necessidade de ser humilhado. É claro que eu ia aceitar, não só ia aceitar, como ia fazê-lo se arrepender de se considerar superior a mim, mas nossos planos foram frustrado por outra ave.

Um pica-pau estiloso não demorou a tomar um lugar ao centro junto com outros betas de prestígio e começou a explicar o que seria feito a seguir antes que eu pudesse responder a Peng. Ele declarou que ocorreria uma competição em trios' onde os melhores receberiam respeito e reconhecimento dos outros animais, e eu não podia querer mais. Mesmo sendo incrível, muitos animais não percebiam meu grande potencial, e essa era a chance perfeita de fazê-los respeitarem aos grande Capitão Finolt; além do mais, Nash parecia ser o tipo de filhote com problemas quanto ao relacionamento com outros filhotes, e respeito era mais do que necessário dos outros animais quanto a ele. Eu poderia conseguir o reconhecimento quando quisesse graças à minha grandeza, mas Nash precisava de ajuda para aumentar sua alto-estima, e como grande capitão que eu era, não poderia negar ajuda - Coragem é a última coisa que me faltaria, mas tenho uma ideia melhor - Diria a Peng - Se quer provar suas capacidades, junte-se a nós no trio para esta competição. Eu e você faremos uma competição interna para ver quem vai se sair melhor nas provas, e, se você for tão bom quando diz, de qualquer jeito nosso grupo sai vencendo, e receberemos o reconhecimento de nossas capacidades. O que me diz?

Eu esperava que Peng aceitasse o novo desafio se juntasse ao trio, pois embora não parecesse tão grandioso quanto eu, ele definitivamente parecia saber de suas capacidades, e ele realmente havia pego até mesmo eu de supresa com aquela sua descida a pouco. Se Nash ficasse surpreso por eu querer fazer grupo com ele, eu retrucaria - Mas é claro que pretendo fazer trio com você, até os mais fortes animais precisam de um bom líder, e um líder precisa de animais de confiança - Ele precisava desse tipo de incentivo para fazer as provas de cabeça erguida e ter seu potencial máximo, e eu sabia que ele conseguiria se engolisse a timidez e tivesse força de vontade. Caso Peng decidisse não se juntar ao trio, eu diria - Tudo bem, boa sorte em achar o grupo que ficará em segundo lugar - E iria em busca de outro filhote promissor solitário que pudesse completar o trio. Se ele aceitasse, eu sorriria e diria com a cabeça erguida - Boa sorte em ser o segundo melhor animal nessas provas - Independente do caso, se formasse o trio, permaneceria junto dos outros dois até à divulgação dos desafios.  

- Estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado, ESTOU ATRASADOOOO! - Falava comigo mesmo, como se para enfatizar meu erro enquanto rolava floresta a dentro na direção do lago. Eu nunca havia estado em uma reunião social como aquela, no máximo no meu próprio bando, então eu estava meio nervoso. Na minha forma de bola eu não tinha o que temer, e apesar de eu não conseguir ver nada para onde eu estava indo, eu sabia que não iria me machucar; além do mais, todos falavam desse lago como se fosse algo surpreendente, então eu sabia mais ou menos onde ele ficava. Só precisaria sair rolando até ouvir muitas vozes e ai parar, simples.

Quer dizer, não tão simples assim: da última vez que tentei fazer isso acabei ficando preso em um tronco de árvore podre, mas o passado era passado, e as chances de eu acabar caindo no meio do lago eram baixíssimas!.. Eu acho. - To chegando, tô chegando, tô chegando. - Já começava a ouvir vozes ao longe, e pareciam falar algo sobre uma prova em trios ou algo assim. As vozes ficavam cada vez mais altas, até que eu tive certeza que havia chegado, apesar de estar no escuro total, envolvido por minha carapaça na forma de bola.

- CHEGUEI! - Acabei gritando de empolgação ao desfazer a forma de bola e voltar ao normal, mas logo me arrependi. Aquilo provavelmente iria chamar a atenção de todos, e ser o centro das atenções era a última coisa que eu queria. Se chamar a atenção dentro do bando já era vergonhoso, imagine para todos os outros bandos? - Me desculpe... - Murmurei, envergonhado, esperando que me ouvissem, e voltei para a forma de bola. Por algum motivo, aquilo me ajudava a ignorar a timidez.

Ainda na forma de bola, rolaria na direção dos outros betas, tendo os visto quando cheguei, e pararia quando esbarrasse em alguém. Desfaria a forma de bola e olharia para quem eu havia esbarrado, esperando que fosse algum beta. - Ei. Eu ouvi falando... Sabe... que ia ter uma prova... - Era difícil iniciar uma conversa com um desconhecido, mas papai é mamãe me falaram que seria bom interagir com outras espécies, e não queria decepciona-los. - Quer fazer trio comigo?

Tsc, medroso. Até parece que não se sentiu aliviado que o topetudo interrompeu e salvou ele da vergonha. E ainda fica se fazendo de bravo propondo uma competição interna. Acha que eu sou burro e não saquei a dele.

O que? Vocês não sacaram? Aff, então deixa eu explicar... se ele quisesse competir de forma justa mesmo, teria dito pra eu ir montar um grupo e competirmos grupo contra grupo. Mas ele quis montar um grupo comigo e fazer uma competição interna. Pensem bem. Porque ele quis isso??

Passem além do mais lógico, de que ele queria apenas garantir a vitória estando com o grandioso EU no grupo. Parece que ao menos esse pingo de bom senso ele tem. Vejam além disso. Ele e a zebra que não é zebra já trocaram palavras amistosas antes de eu assusta-los. O plano dele ta na cara! Usar a ajuda do terrestre pra lidar comigo!

Rá! E ele achou que eu não conseguiria perceber. Tolo.

- Hmph, pelo menos você sabe que pra garantir vitória é bom estar no mesmo time que eu. Talvez haja mais em você do que aparentam aos olhos no fim das contas. Certo, vamos fazer essa competição interna, e não tem problemas se quiser apoio da zebratigre, eu sou mais que suficiente para vencer os dois juntos. Run! - Enquanto eu falava erguia a cabeça com o bico apontando para o alto, mas os olhos grudados neles. A imagem da grandeza. E bom, não fiquem surpresos com o fato que eu aceitei. Afinal de contas, porque eu deveria ter medo de uma dupla dessas?

E aliás, já viram os outros filhotes? Todos terrestres! Um palerma brincando na agua, um porquinho, um... nem sei que bicho é aquele, depois pergunto pro meu pai. E um urso super gordo. Se bem que ele é grande, e tem uma cor diferente.

Ta cheio de animal com cor diferente do comum aqui hoje, não é mesmo?

- Conte-me zebratigre, porque tem essa cor diferente? Tambem tinge seus pelos? - Ao dizer isso estufava meu peitoral para ele ver algumas poucas penas salpicadas de vermelho, como o melhor dos betas, eu tinha direito aquela pintura. Já que tinham quinze minutos para esperar e o falcãozinho não queria perder na frente de todos, só me restava conversar com eles para matar o tempo.

No fim das contas eu não tinha me atrasado tanto, o leão havia acabado de se pronunciar e todos começaram a se divertir logo em seguida; do lugar onde havia me sentado para comer frutinhas conseguia ver alguns filhotes andando pela região do lago.

Conseguia ver um javali que por algum motivo corria em círculos, mas não conseguia entender o que ele estava falando, observando mais um pouco conseguia ver que um grupo já havia se formado, com dois pássaros e uma zebra, porém algo havia chamado minha atenção mais do que esses filhotes, o pequeno tatu-bola que chegou gritando e se encolheu e logo em seguida saiu rolando pelo lugar.

- Há Há Há! Aquilo foi engraçado, comeria mais uma frutinha e levantaria do meu lugar me espreguiçando e partiria caminhando até o tatu “ele parece um carinha legal” ao me aproximar voltaria a sentar e cutucaria suas costas – Oi, eu sou o Arcturis. Como você se chama? Esperaria a resposta dele e completaria, - Vamos fazer o trio pra competição?

— Caminhandu com o macaquinhu, pode vir que é sucessinhu! — cantarolava ao caminhar pelo local. O pequeno Pipo não sabia bem onde estava, mas a quantidade de animais era gigantesca. — Quanta gente aqui... Caminhando com o macaquinho, ele vai conquistar seu colaçãozinho! — continuou ele, dançando. Em certo momento, Pipo deu de cara com uma bolota, ou pelo menos ele pensava que era. — CHEGUEI! — gritou a bolota, assustando o pequeno macaquinho, que correu de medo. – Valei-me nosso senhor Donkey Kong, o que é isso? — falou o pequeno, encolhido, tentando ver o que acontecia ali. Vendo que ele falava com outro animazinho, Pipo pensou que ele seria amigável, então rapidamente mudando de atitude, correu até ambos e, saltando em cima do pançudinho, o filhote tentou ser amigo. — Vamus ser amigos?! — gritou ele, fazendo uma cara de olhar pidão para ambos — Pur favô! Pu favô! Peciso de amiguinhos! — falou ele.